sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Estreia a coluna Cultura com Alessandra Boudot

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-Cultura inútil-

Inaugurar coluna é sempre um negócio complicado!

A gente fica quebrando a cabeça atrás de um tema genial, impactante. Buscando uma frase de efeito pra segurar o leitor e impressionar o editor. Dá branco, não tem jeito.

Pra complicar, ultimamente eu vinha me interessando de novo por política. Cismei. Li dois ou três teóricos e já me achava pronta pra sair metralhando no teclado, derrubar o sistema (qualquer um), citar sociólogos, falar difícil e fazer aquela cara de inteligente, estilo “meninas do Jô”, quase comprando um tailleur.

Mas num papo rápido de corredor, um amigo (que entende de textos bem mais do que eu) me disse: “Acho que você devia escrever sobre cultura. Esse assunto você conhece. Vai falar de cinema, teatro”.

Não sei se ele me chamou de analfabeta política ou de erudita cultural, mas na hora eu me frustrei. O mundo desabando, ano eleitoral, crise ambiental, escândalos financeiros e eu falando sobre linguagens cinematográficas, dramaturgia, literatura, propostas estéticas? Mas pra que é que isso serve?!

Essa nossa urgência pela funcionalidade quase me enganou.

Cultura não serve ao útil imediato, ao mundo objetivo. Discretamente, come o mundo pelas bordas, pois é tudo que fica, tudo que dura, que resta, que somos.

Dá pra passar sem? Dá. Sem rimas, sem música, a vida continua. Em termos orgânicos, nem mesmo o amor é fundamental.

Mas somos animais com outras sedes. Alguma coisa em nós não se acalma com três refeições por dia, teto e estabilidade. Já pintávamos paredes de cavernas antes de aprendermos a ler. Somos um bando de esfomeados de algo indefinível, que se expressa e se acalma na experiência criativa, seja fazendo, seja apreciando.

Inaugurar colunas continua complicado. Mas é mais fácil quando estamos na coluna certa.

A cultura ainda é profundamente necessária.

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Por Alessandra Bourdot

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